O mercado de estacionamentos costumava ser bastante simples: um lugar em uma via de grande fluxo, com espaço para que as pessoas colocassem seus carros pagando um valor por hora ou fixo por período. Mas assim como tantos outros setores da economia que têm sido impactados por novos modelos de negócio e mudanças de comportamento dos consumidores, os estacionamentos têm buscado reinventar suas atividades.
Investimentos altos em tecnologia para otimizar as operações, ponto de carga para carros elétricos e retirada de patinetes, serviços como a retirada de encomendas e preços variáveis são algumas das novidades que as principais empresas do setor incorporaram nos últimos tempos. “O estacionamento é só o começo”, diz André Iasi, presidente da Estapar, maior empresa do setor, com receita de R$ 1,4 bilhão.
De acordo com o executivo, a companhia – que tem como sócios BTG, Equity International, Crescera Investimentos (antiga Bozano) e a Franklin Templeton – vem crescendo a um ritmo de dois dígitos ao ano nos últimos anos e projeta fechar 2019 nesse nível. Com a expectativa de retomada da economia, o cenário também é positivo. “Se o Brasil voltar a crescer a 3% ao ano, vai faltar vaga de estacionamento, porque os aplicativos e a locação de carros não tiram carros da rua, só mudam o jeito que as pessoas usam os veículos”, diz.
Com o preço da tarifa do estacionamento subindo de forma mais lenta nos últimos anos – o percentual de reajuste, que chegou a 4,26% em 2018, caiu para 0,73% no ano passado e acumula 0,30% até julho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) do IBGE – a Estapar e suas duas principais concorrentes, a francesa Indigo e a PareBem, têm crescido com base em contratos com empresas, prédios comerciais e grandes estruturas, como shoppings e estádios.
Por não terem tanta oscilação de demanda como a operação de rua e serem de longo prazo, esses contratos dão mais previsibilidade à operação e tranquilidade para amortizar investimentos em infraestrutura que eventualmente precisem ser feitos. A PareBem, que pertence ao fundo Pátria, por exemplo, gastou R$ 50 milhões para construir um edifício garagem no aeroporto de Curitiba, dentro do pacote de concessão de 25 anos assinado em 2016.
De acordo com Marcelo Nunes, presidente da companhia que é a terceira maior do mercado, com a queda no número de passageiros registrada com a crise, foi preciso fazer investimentos em automação para manter a operação funcionando com rentabilidade. “Gerenciamos tudo a partir de uma central de controle. A emissão da segunda via de um tíquete perdido demora um minuto usando informações coletadas do veículo e do motorista na entrada”, diz.
Segundo o executivo, a companhia tem testado um modelo de tarifa dinâmica no estilo de aplicativos de transporte, para oferecer tarifas mais baratas nos momentos em que a ocupação dos estacionamentos estiver mais baixa A expectativa é fechar 2019 com receita de R$ 400 milhões, um crescimento de 45% na comparação com 2018.
De acordo com Thiago Piovesan, diretor-geral da Indigo, segunda maior companhia do setor, criar novas ofertas no Brasil não é fácil devido à falta de infraestrutura no país, mas é necessário frente ao cenário de mudanças de comportamentos. Ele diz acreditar, no entanto, que o estacionamento não deixará de ser o negócio principal das companhias. “Mas vamos ter que nos aplicar a outras coisas que o viabilizem, o tornem importante”, diz.
Desde que chegou ao país, em 2013, com a aquisição da Moving, a companhia francesa investiu R$ 350 milhões no país até agora. Em 2019, o total chega a R$ 100 milhões – de R$ 200 milhões previstos. Com receita da ordem de R$ 600 milhões dez vezes mais que há seis anos -, a companhia vê nos hospitais e no setor de educação potenciais de crescimento nos próximos anos.
Texto de Gustavo Brigatto, publicado no Valor Econômico no dia 27/08/2019.